“Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão.”
I Timóteo 6.9-11
Para quem não sabe, moro no Espírito Santo. Passamos por muitas chuvas esses dias. Alagamentos, enxurradas, mortes. A água estava na altura do joelho na minha rua. E é interessante assistir a mudança impressionante no comportamento de todos os que habitam os lugares que passam por momentos difíceis. Um senso de solidariedade mútua se instala. Na minha rua, quando eu passava, as pessoas perguntavam se eu queria ajuda, se a minha casa tinha sido alagada. Isso me trouxe lembranças antigas da favela “Cidade de Deus”, onde morei na minha infância.
A maioria dos moradores das favelas não tem grandes ambições. Vivem com o pouco, sempre dizendo: “O pouco com Deus é muito, e o muito sem Deus é nada”. Dormem o sono dos justos, com a consciência tranqüila, sem peso nenhum. Prezam pela justiça, pela ética, por viver em paz. O resultado é um pedreiro feliz, uma dona de casa apaixonada por seu esposo, filhos que se sentem amados por seus pais. Dê uma garrafa PET vazia a uma criança de favela e ela logo se transformará em espada, em trave de golzinho de pelada de rua, em bastão de baseball que rebate as pedras lançadas pelo coleguinha.
Enquanto isso, os apartamentos na beira da praia estão vazios. Os donos estão trabalhando na empresa. Quando os apartamentos estão ocupados, os donos estão trabalhando ali, através da internet, do celular. O stress aumenta, o período de sono diminui, a preocupação e a ansiedade estão sempre presentes. Os prédios têm sauna, piscina, quadra de tênis, futsal e etc. Apesar disso, estão sempre vazias. Os donos não têm tempo.
Isso acontece porque os que querem ser ricos caem em tentação. Caem em um laço, onde são amarrados e não conseguem mais se soltar. Caem em muitos desejos incontroláveis loucos e nocivos, como o apetite excessivo, os muitos celulares, cada um com uma tecnologia diferente, e milhares de bugigangas que serão esquecidas no próximo mês, quando será lançado um modelo novo. Estes desejos afundam o homem na perdição e na ruína de valorizar mais as coisas do que as pessoas. Como disse alguém: “Se as coisas são para serem usadas e as pessoas para serem amadas, por que amamos as coisas e usamos as pessoas?”
O amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males. Por dinheiro se mente, se rouba, se mata. Por amor ao dinheiro se inveja, se cobiça. Por possuir o dinheiro, se ensoberbece, se entristece na vida solitária de quem tem medo de perder tudo em uma amizade falsa. E nessa cobiça alguns se desviam da fé, transpassando-se com muitas dores. E nós, que nos consideramos homens de Deus, devemos fugir dessas coisas.
Devemos seguir a justiça, que consegue viver na ética, sem agir de má fé para ganhar algum benefício nisso. Devemos seguir a piedade, que busca em Deus um padrão amoroso que a faz se apiedar de todo o que passa por seu caminho. Não se pisa em ninguém, nem por orgulho, nem por ambição. Devemos seguir a fé, sem nos desviarmos para buscarmos outras coisas. Devemos seguir ao amor, que não busca o seu próprio benefício. Devemos seguir a paciência, que a maioria dos empresários não tem com nenhum de seus funcionários. Nestes empresários sobram cobranças ásperas e grossas. Devemos seguir a mansidão; mansidão essa que não habita o coração de nenhum riquinho empavonado, que exige os seus direitos simplesmente por ter “pagado” por aquilo.
Vinícius Santos Albuquerque