sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Imperfeições - Charles Haddon Spurgeon




O que se gaba de ser perfeito, só é perfeito na tolice. Eu estou há um bom tempo pelo mundo, e nunca vi um cavalo perfeito nem um homem perfeito e nunca verei até que dois domingos venham juntos. Você não pode obter farinha de trigo de um saco de carvão nem, perfeição da natureza humana; o que procura isso faria melhor procurando açúcar no mar. O antigo ditado diz: "Onde não há vida, não há imperfeição". Sobre homens mortos não deveríamos dizer nada a não ser o bem; mas todos os vivos têm mais ou menos os mesmos defeitos, e podemos ver isso com apenas um olho. Toda cabeça tem um pouco de miolo mole, e todo coração tem uma partezinha negra. Toda rosa tem seus espinhos, e cada dia, sua noite. Até mesmo o sol tem manchas, e as nuvens escurecem os céus. Ninguém é tão sábio nem tolo o bastante para guardar um lugar especial na Feira da Vaidade. Posso não ver o boné de bobo, contudo escuto o retinir dos sininhos. Como não há luz solar sem algumas nuvens, assim também todos os seres humanos têm uma boa mistura de maldade, uns mais, outros menos. Mesmo os pobres protetores da lei têm seus pequenos deslizes, e os cristãos das igrejas não têm natureza totalmente celestial. O melhor vinho tem resíduos. Todas as imperfeições humanas não estão escritas na testa, e é tão certo que elas não estão ou os chapéus precisariam ter abas muito largas. Contudo, tão certo como ovos são ovos, as imperfeições de algum modo se aninham em cada peito. Não há o que dizer quando os pecados de um homem ficam aparentes, pois as lebres saem do fosso justamente quando você não procura por elas. Um cavalo com as pernas fracas pode não tropeçar por um ou dois quilômetros, mas ele tem a fraqueza e é melhor o cavaleiro segurá-lo bem. A gata listrada não está bebendo leite agora, mas deixe a porta da leiteria aberta e veremos se ela não é tão ladra quanto os gatinhos. Há calor no minério aparentemente frio, espere até o que o aço dê uma pancada nele, e você verá. Todos conhecem os fatos, mas nem todos lembram de manter a pólvora longe da vela.

Se lembrássemos sempre que vivemos entre homens imperfeitos, não sentiríamos essa perturbação quando descobrimos as falhas de nossos amigos. O que está podre despedaça-se, e os potes rachados vazam. Abençoado é aquele não espera nada da carne e do sangue, pois não se desaponta. O melhor dos homens são homens em seu melhor, no entanto, até mesmo a melhor cera derrete.

O bom cavalo é o que nunca tropeça A boa esposa é a que nunca resmunga. Sem dúvida, encontramos tais cavalos e esposas apenas no paraíso dos loucos em que crescem bolinhos em árvores. Neste mundo pernicioso, a tora mais reta tem nós, e o campo de trigo mais limpo tem sua cota de ervas daninhas. O motorista mais cuidadoso, um dia, bate o carro; o cozinheiro mais talentoso derrama um pouco de caldo; e para minha tristeza sei que um lavrador muito decente, às vezes, quebra o arado e faz um sulco torto.. É tolice se afastar de um amigo leviano por causa de um ou dois deslizes, pois você pode livrar-se de um cavalo caolho e comprar um cego. Como somos todos cheios de defeitos deveríamos observar dois fatos: aprender a suportar e ser tolerantes uns com os outros. Como todos temos telhado de vidro, nenhum de nós deve atirar pedras no telhado do vizinho. Todo mundo ri quando a panela diz para a chaleira: "Como você está preta!". As imperfeições dos outros nos mostram as nossas imperfeições, porque uma ovelha é muito parecida com a outra; e se há um cisco no olho do meu vizinho, sem dúvida há uma viga no meu. Temos de usar nossos vizinhos como espelhos para ver nossas próprias faltas neles, e corrigir em nós mesmos o que vemos neles.

Não tenho paciência com os que ficam enfiando o nariz na casa de todo mundo para descobrir imperfeições; que usam óculos excelentes para ver as falhas de seus vizinhos. Seria melhor se essas pessoas olhassem seus lares e vissem o demônio onde menos esperavam. Nós vemos o que queremos ou o que achamos que é. As imperfeições são sempre abundantes, onde há pouco amor. Uma vaca branca será toda negra se seus olhos quiserem que ela seja. Se aspiramos por muito tempo um perfume achamos que o aroma não é bom. Seria bem mais agradável, pelo menos para as outras pessoas, se os descobridores de imperfeições dirigissem seus cães para descobrir pontos positivos nos outros; valeria mais a pena e ninguém ficaria de pé com um forcado para mantê-los fora de sua fazenda. Quanto a nossas imperfeições precisaríamos de uma grande lousa para enumerá-las; mas, graças a Deus, sabemos onde levá-las e como tirar delas o melhor. Se cremos em seu Filho, Deus nos ama com todos nossos erros. Por isso, não desanimemos, mas tenhamos esperança de viver, e aprender, e prestar algum bom serviço antes de morrer. Ainda que o carro quebre, ele chega em casa com sua carga, e o cavalo velho, de joelhos quebrados, ainda faz uma parte do trabalho. Não adianta deitar no chão sem fazer nada porque não conseguimos fazer tudo como gostaríamos. Imperfeita ou não, a lavra precisa ser feita; pessoas imperfeitas devem fazê-la também ou não haverá colheita no próximo ano. João pode ser um mau lavrador, mas os anjos não farão seu trabalho para ele, assim, ele tem de começar a fazê-lo ele mesmo. Vamos, Violeta! Arre, pára! Garboso.

Fonte: http://www.charleshaddonspurgeon.com/

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

José e Cristo - Como Deus nos Conduz Soberanamente à Salvação



“Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida.”
(Gn. 50: 20)


A Soberania de Deus



Os patriarcas de Israel, tendo o coração endurecido, invejaram aquele que estava para se tornar o maior deles: José (Gn. 37: 3-4). Seus irmãos o venderam por ciúmes, o lançaram à vergonha e ao sofrimento, porém vindo o período de fome em todo o mundo, tornou-se o Egito o único lugar onde se conseguiria comida, e José, agora como governador do Egito, era quem tinha poder sobre a vendia dos alimentos (Gn. 41: 57). Os irmãos de José estavam agora em suas mãos, todavia sem saber sua real identidade, até o momento em que José se revela a eles e, é nesse momento, que lhes é apresentado que tal situação foi na verdade um plano de Deus para preservar a vida de todos (Gn. 45: 3- 8). É simplesmente indescritível a forma como o Senhor utilizou a própria maldade dos irmãos de José para lhes salvar, pois tendo o Senhor revelado a José o que haveria de acontecer, se encheu o coração de seus irmãos de inveja e conspiraram contra ele, todavia o Senhor sabia do que havia de acontecer e permitiu, para que lhes houvesse salvação no tempo de fome. Os homens agiram, pecaram, mas Deus não perdeu o controle da situação em momento algum, e tornou o mal que eles cometeram, no bem que os salvou.



O sofrimento conduziu à salvação



Podemos fazer um paralelo entre a história de José e Jesus, é como se José prefigurasse o Senhor Jesus. Assim como José, nosso Senhor padeceu por inveja, foi repudiado por suas palavras e injustiçado por ciúmes, mas Deus usou a pecaminosidade humana para demonstrar Sua misericórdia. Que grande plano Deus criou, de que outro modo os homens reconheceriam o amor de Deus, senão em lhes perdoar o pecado?

Cristo fez com que o pecado suicidasse na cruz, através do pecado do homem, a obra de redenção e libertação promovida por Cristo, foi efetuada. Cristo não teria sido assassinado senão fosse a perversidade da alma humana, o que torna o plano de Deus infalível, pois de modo algum Judas o deixaria de trair, pois era ganancioso (Jo. 12: 4-6), e de modo algum os fariseus se renderiam a Cristo, pois amavam o poder e a glória diante dos homens, os pecados destes homens os conduziu a matar Jesus. O Senhor via toda a perversidade humana e se utilizou dela para cumprir Seu propósito.

Na história de José, Deus, categoricamente, orquestrou os eventos afim de que a única forma de os irmãos de José permanecessem vivos fosse o perdão daquele contra quem eles pecaram. De mesmo modo, os homens assassinaram o Filho de Deus, sob a permissão do Pai, para que a única forma de sermos salvos, fosse o perdão Dele, que nos é demonstrado através de Cristo, afinal, Deus se fez homem para que o homem visse nEle, a consequência de seu pecado, e assim soubesse o quão digno será seu juízo.

Quando José diz para que seus irmãos não se irritem consigo mesmos (Gn. 45: 5), seria como dizer: “Não vos condenem, pois eu não vos condeno”, assim também disse o meu Senhor na cruz. José sabia que seu sofrimento era necessário para que sua família fosse salva, sabia que Deus o havia escolhido para tal obra, Jesus também sabia que haveria de padecer, somente Ele seria capaz de tomar do cálice da Ira divina. Deus, ao tornar explícito o pecado humano o tornou vergonha diante dos próprios pecadores, de modo que todos os que crêem na divindade de Cristo são constrangidos, mediante Seu amor por nós, a se arrependerem, por isso quem nEle crê como o Unigênito de Deus (Aquele que porta o mesmo “gene” de Deus), jamais perecerá (Jo. 3: 16-17).



Almas pecadoras se rendem diante do perdão



Os irmãos de José arrependeram-se e se renderam a seu irmão, prostrados diante dele disseram: “Eis-nos aqui por teus servos.(Gn. 50: 18b)”. Os irmãos de José estavam dispostos a se entregar a ele como servos, como escravos em troca de seu perdão. José o último dentre os irmãos, tornou-se o maior dentre eles, respeitado por todos, não por seu poder, mas pelo poder de seu perdão.

Nisso tornasse ainda mais fabuloso o plano salvífico de nosso Senhor, pois mostrando na cruz seu perdão, nos constrange à servidão dAquele que é digno de ser servido (2Co. 5: 14), não impondo tiranamente Seu poder, mas perdoando divinamente, de modo que não há outra forma de retribuí-Lo senão servindo-O diligentemente. Por fim não nos resta outra alternativa senão dizermos: “Eis-nos aqui por teus servos”.



Gustavo Marchetti