terça-feira, 23 de novembro de 2010

A Ignorância do Obedecer

“Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita;”

Mateus 6.3


Hoje acordei com a percepção extrema de que tudo se faz por reconhecimento. TUDO. Todos os nossos relacionamentos giram em torno do reconhecimento. Esta é a causa principal de todas as desavenças familiares. A mulher briga com o marido porque ele não reconhece o “duro” que ela dá em casa e ainda a chama de preguiçosa. O marido briga com a esposa porque ela não percebe que ele suou demais a camisa no trabalho para ela gastar 300 R$ em uma bolsa ou querer conversar com ele sobre as coisas de casa. Será que ela não percebe? Ele ouviu clientes reclamando na cabeça dele o dia inteiro! Os filhos gritam por atenção a cada nota alta na escola, cada castelo de areia construído, cada quebra-cabeça montado, cada fase de vídeo-game que se vence. Sem serem notados, eles escolhem o caminho da rebeldia, que chama muito mais atenção!


Assim também é nos empregos. Será que o chefe não reconhece que você merece um aumento? Será que ele não enxerga que você fica até depois do horário? Na escola as crianças fazem brincadeiras orgulhosas, onde umas denigrem as outras. Tudo para que fique claro quem manda no “pedaço”. E assim a vida segue, mostrando que toda comida caprichada é para ser apreciada; todo desenho bem feito é para ser visto; todo texto bem escrito é para ser lido. Até eu quero que o meu blog seja visto! Talvez não por razões egocêntricas, mas razões cristãs. Mas ainda assim o exibicionismo é pleno. Todo ser vivo se exibe por motivos diversos. Até os animais se exibem para proteger os seus, colocando medo, ou para acasalar. Vemos então que o que se deve analisar é a motivação, a razão pela qual se exibe, pois Cristo disse que a luz não pode ficar debaixo do alqueire.


Como ir por todo mundo, pregando à toda criatura, e fazer a minha luz brilhar diante dos homens sem que isso se torne pecaminoso, mau-visto, aos olhos de Deus? A resposta está neste versículo: “Não saiba a tua esquerda o que faz a tua direita”. Jesus inicia esta parte do sermão dizendo que não devemos fazer as coisas para sermos vistos, com o simples propósito de ser aplaudido, ovacionado. Esta prática é condenada, mas há outra prática a ser inserida no lugar: Não saiba a esquerda o que faz a direita. Isso é muito mais do que apenas não revelar aos outros o bem que fazemos. Não é uma hipérbole de Cristo, para mostrar o nível em que temos que esconder os atos de justiça. Aliás, Ele não quer que os atos de justiça sejam escondidos.


O que Jesus está dizendo é que o próprio ser que pratica o bem não SABE o bem que faz. As duas mãos são de uma pessoa só. Só assim obedeceremos a Cristo sem farisaísmo. O que mais me impressiona na parábola do Bom Samaritano é que ele não tinha obrigação de fazer o bem, mas fez. Ele não tinha nem noção do bem que fazia. É aquela bondade que brota do coração que pensa “qualquer um faria isso, mas já que eu cheguei primeiro... Vamos lá”. Este é o único caminho para a bondade que não gera orgulho. A justiça que não gera orgulho é a que nasce do coração que não sabe o bem que faz.


É a justiça que fala das coisas do Alto em uma conversa, sem saber que as palavras simples que saem da sua boca se esparramam no coração de quem ouve como um rio de água viva. É a bondade que diz “A Paz do Senhor”, algo que ela faz sempre e por isso não tem nada de espetacular, com tanta ternura que enche a alma de quem a recebe de forma inexplicável. É aquela pessoa que sente vontade de dar um abraço na mãe ao acordar e fica muito agradecido por ter essa liberdade, sem saber o bem que fez à mãe, que tinha acabado de ser rejeitada com palavras pelo esposo. Esta é a obediência cega, burra e ignorante às ordens de Cristo, que só vai saber, conhecer e aprender no dia da segunda vinda, onde perguntará incessantemente: Quando Te dei de beber? Quando Te vesti e Te alimentei? Quando Você esteve preso e eu fui te visitar? E cristo dirá: Toda vez que fizeste a um destes pequeninos, fizeste a mim! Entra no teu descanso.


Vinícius Santos Albuquerque

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