sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A Palavra de Jesus


“E, chegada a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados, e ele com a sua palavra expulsou deles os espíritos, e curou todos os que estavam enfermos”

Mateus 8.16


Quando me converti verdadeiramente tive um período de profunda transformação na minha natureza. A regeneração tinha se tornado uma realidade tão forte para mim que eu simplesmente não conseguia entender o modo de viver de alguns que se diziam cristãos. Eu tinha apenas nove anos, mas houve uma conversão verdadeira em mim. Meu prazer pelas coisas do mundo tinha desaparecido. Meditar na Bíblia tinha se tornado infinitamente mais prazeroso do que jogar vídeo-game. Eu finalmente ia à igreja sem que a minha mãe precisasse de um discurso quase que comunista para que eu fosse. Eu ouvia a mensagem e as palavras me penetravam o coração. Deus tinha se tornado real para mim. É por isso que posso afirmar categoricamente: Enquanto não somos regenerados, Deus é apenas um conto de fadas para nós.


Como eu era jovem ainda, tive alguns privilégios. Chegava da escola, ajudava a minha mãe no que precisasse, tomava um banho e me trancava no quarto. Que momentos preciosos! Ali eu conheci a Deus. Li a Bíblia inteira em meses, já que eu tinha muito tempo disponível. Aquele pão vivo descia suavemente ao meu espírito, me nutrindo intensamente.


Não demorou muito para alguém dizer para mim: “Isto é só o começo... Logo passa esta empolgação”. Começaram a aparecer os mestres da lei, dizendo “Faça assim, faça assado”. E eu, pela minha inocência, fui aderindo a tudo aquilo, crendo que eles eram mais entendidos e sabiam o que era melhor para mim. Seis anos depois se tornou impossível permanecer na igreja. O fardo que tinham atado em mim era grande demais. Eu carregava a minha família inteira nas costas. Me diziam: “Você precisa ser bom filho, bom irmão. Você precisa orar duas oras por dia. Você precisa ler 40 capítulos da Bíblia por dia. Você precisa buscar unção até que as pessoas caiam pelo poder da sua oração. Você precisa buscar unção para que as pessoas chorem quando você orar”.


Peguei nojo da palavra “você”. Por que tudo eu? Será que Deus não entende que eu sou falho e não consigo andar neste ritmo? Será que Ele não sabe que eu quase anulei a minha personalidade obedecendo às Suas ordens para que Ele sempre fique insatisfeito? O meu erro foi atribuir palavras de homens a Deus. As palavras dos homens nos engodam. As palavras de homens nos aprisionam. Palavra de homem carrega a natureza humana, depravada. E hoje, ao ler este trecho de Mateus, vi algo simples que demorei demais para aprender sozinho, que me teria evitado muito sofrimento.


O que Deus renovou em meu entendimento através deste versículo é que é o próprio Deus que santifica o homem. O homem não tem poder para se santificar. É por isso que decidi abandonar a teologia teórica para falar da teologia prática. Ao invés de dizer: “O homem não-regenerado não pode se santificar” prefiro dizer: “Eu – Deus = Um monte de pecado. Eu + Deus = Santidade”. Ao invés de dizer “Deus é soberano e é Ele que elegeu os que iam ser salvos antes da fundação do mundo” eu prefiro dizer “Na lama em que eu me encontrava era impossível que eu me salvasse. Graças a Deus pela sua infinita misericórdia em me enviar a Cristo!” Esta é a diferença entre a palavra do homem e a Palavra de Cristo. A palavra do homem não pode ser vivida, experimentada, e não tem resultados benéficos. A Palavra de Cristo cura, expele demônios. Basta estar em contato com esta Palavra para ter o alívio das cargas. Este poder vem de uma graça que diz: “Todo bem que Eu quero em você, Eu mesmo produzirei”. Quando esta palavra entra no coração, a nossa mente é levada cativa à obediência de Cristo. Quando esta Palavra entra no meu ser e passa pelas minhas percepções de mundo, vejo que não há outro caminho que não seja santificação. Mas antes desta Palavra há muitos caminhos. Depois dela, tudo se torna mentiroso, pois ela se revela como a verdade absoluta.


É por isso que, crendo que esta Palavra é um laxante que expurga de mim toda malignidade e depravação, eu continuarei me fartando nos seus banquetes a cada manhã. A lei do Senhor sacia a nossa alma, alimenta o nosso espírito, aquieta o nosso coração. Assim como a voz de Cristo acalmou os ventos e o mar, a Sua voz acalma o meu coração. Isto acontece porque nós, como ovelhas, reconhecemos a sua voz. Quando estamos perdidos, Ele nos chama. Ouvimos a Sua voz e nos acalmamos no conforto do Seu amor. O pecado está no caminho da agitação, da incontinência, das muitas vozes, dos muitos conselhos. A santidade está no sussurro de Deus aos nossos ouvidos, quando, no silêncio do nosso quarto, aquietamos a nossa alma nEle. Por isso a paz compõe o tripé da identidade do Reino. O Reino de Deus é justiça, paz e alegria no Espírito. No governo de Deus há paz. Nessa mente pacificada pela palavra do Rei, que leva todo pensamento cativo à obediência de Cristo, é que eu caminharei. Que a autoridade da Palavra de Deus me leve ao exorcismo completo de todas as mazelas do meu coração, para que no último dia eu possa dizer: “Ele foi fiel e completou a boa obra que começou em mim”; e assim, isto se torne um testemunho eterno de glória para Deus, a fim de que eu me sacie na delícia da Sua presença eternamente!

Vinícius Santos Albuquerque

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Vendo Gente como Gente

“E chegou a Betsaida; e trouxeram-lhe um cego, e rogaram-lhe que o tocasse. E, tomando o cego pela mão, levou-o para fora da aldeia; e, cuspindo-lhe nos olhos, e impondo-lhe as mãos, perguntou-lhe se via alguma coisa. E, levantando ele os olhos, disse: Vejo os homens; pois os vejo como árvores que andam. Depois disto, tornou a pôr-lhe as mãos sobre os olhos, e fez olhar para cima: e ele ficou restaurado, e viu cada homem claramente. E mandou-o para sua casa, dizendo: Nem entres na aldeia, nem o digas a ninguém na aldeia”

Marcos 8.22-26

Há dois anos Deus começou a abrir meus olhos para coisas no cristianismo que não estavam de acordo com a Palavra. A Bíblia, que antes era a regra de fé do cristão, agora é apenas um livro que abrimos aos domingos. Quando Deus começa a mostrar determinadas coisas a um homem, este homem quase entra em colapso. É quase aquela cena de Elias, dizendo “Deus! Só eu te sirvo! Todos se corromperam!” E Deus olha para ele e diz: “Fica quietinho. Você não sabe do que está falando. Tem milhares de joelhos que não se dobraram diante de Baal”. Esta visão primária, esta visão de início é bastante complicada.


O grande paradoxo é que ficamos cegos quando começamos a enxergar. Quando acordamos de madrugada, e está tudo escuro dentro do quarto, não enxergamos nada. Se alguém ligar a luz, você não conseguirá enxergar nada durante alguns segundos, até que a pupila se contraia, permitindo passar apenas a quantidade de luz que você suporta. Elias começou a enxergar, pelas mensagens que Deus lhe enviava, que tudo estava errado. Elias começa a ver erros em tudo e todos. Tornou-se um crítico de mão cheia. Este é o primeiro caminho que chegamos quando Deus começa a abrir os nossos olhos. Todos os que têm um relacionamento com Deus e ouvem a Sua voz de alguma forma chegam neste estágio. É aí que passamos a ver homens como árvores.


Árvore é algo banalizado. Os cães urinam nela. Os homens também. Talvez você tenha atacado as pessoas que você vê no erro, lançando toda a sua sujeira sobre ela. Estes homens, que vemos como árvores, se comportam como aquele arbusto que escondia a nudez de Adão e Eva. Quando projetamos a nossa visão na imperfeição deles, começamos a nos esconder atrás deles, dizendo “Deus! Foi o arbusto que tu me deste como pastor que me manteve neste erro!” Também usamos as árvores para benefício próprio, para produzir móveis ou qualquer outro objeto que nos seja útil ou nos traga conforto. Será que estes homens, que aos seus olhos estão caídos, não se tornaram uma zona de conforto para você? Será que você não olha para eles e diz “Olha só pra vida dele! Já cheguei num nível mais alto que o do meu pastor, porque ele não conhece toda a verdade!”? Será que os erros das “árvores” que você tem visto não estão fazendo sombra no seu coração?


Outra aplicação é que as árvores não têm sentimentos, não vivem, necessariamente, em conjunto, não tem aspectos humanos de convivência. Árvore não tem coração. Árvore não precisa de conselhos, não tem necessidades emocionais. Se quero mudar ela de lugar, arranco ela do local e pronto. Com pessoas não dá para ser assim. Cristo precisa ser formado no coração de cada um. Se arranco bruscamente a pessoa do caminho em que ela estava andando, ela voltará ao caminho errado. E, possivelmente, voltará com feridas profundas. As pessoas que vêem homens como árvores são pessoas que têm as verdades eternas dentro do coração, mas não possuem o amor. Sem amor nada tem sentido, função ou propósito.


Ver homens como árvores é ter a verdade apenas para si, vendo os homens como obstáculo para Cristo e não como compositores em potencial do Seu Reino. Não é apenas pregar o evangelho. É trazer mortos à vida. Não é apenas trazer o entendimento. É levar os aflitos a Cristo para que sejam aliviados de suas cargas e não colocar jugos mais pesados ainda. Não corrija ninguém até que tenha derramado lágrimas por ela em oração. Só isto poderá lhe dar a certeza de que a correção será feita da forma correta. O amor é a plenitude da cura da visão, pois apenas quem ama conhece a Deus e, ao mesmo tempo, apenas quem ama enxerga gente como gente.


Vinícius Santos Albuquerque