terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Não Transfira o Seu Coração para o Seu Bolso

“Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus”

Mateus 5.20


Era comum dos fariseus lavarem as suas consciências com atos superficiais de generosidade. Eram feitas orações públicas para que os homens considerassem sua pureza diante de Deus; e eram concedidas esmolas, da forma mais pública possível, para que os homens considerassem sua pureza diante dos homens. Eram atos purificadores de consciência. Assim os fariseus lavavam suas mãos. Transformavam o relacionamento com Deus em motivo para publicidade. Transformavam a esmola em evidência de misericórdia. Estas eram evidências sem valor.


Meu apelo para você, que lê este texto, é esse: Não transfira seu coração para o seu bolso. Não pense que dar dinheiro é a sua maior prova de amor. O senso de bondade cristã está sendo cada vez mais baseado nas finanças. Este é o sistema que diz “Se amo a Deus, dou ofertas rechonchudas na igreja local”; “Se amo ao meu próximo, ajudo-o financeiramente”. É como se o Deus que criou todas as coisas aderisse ao capitalismo! Chega a ser um modo blasfemo de pensar. Aqui está uma sintetização do que estou querendo dizer para que você faça uma auto-análise:


“Enquanto não vejo o ‘entregar o dinheiro’ como aquela alternativa que só vem depois de procurar com afinco outras soluções, não amo de verdade aquele que se aproximou pedindo ajuda”


Pense nessa afirmação. Imagine a cena: Um mendigo chega até você e diz, com muita sinceridade nos olhos, que quer dar um bom futuro para a sua família, que passa fome. Se você apenas enfia a mão no bolso e tira algo para dar para ele, seu amor é pequeno demais, e é possível que até seja inexistente. A ação "dar dinheiro" demonstra, na melhor das hipóteses, o seu desapego material, mas não demonstra necessariamente o seu amor. O amor é definido pela atitude quando esta atitude é a mais saudável para o necessitado. O amor requer pensamento, construção de raciocínios. Precisamos pensar, descobrir o que é melhor para o carente através da conversa, da observação, do convívio. Isto só se faz com quem se ama. Alguém que ama não apenas dá o peixe, mas ensina a pescar.


O dinheiro é uma solução rápida para tudo. Não exige esforço, se somos bem abastados nessa área. Se existe a dívida, eu pago. Se faltar a comida, eu compro. Se quebrar, compro outro. Quem não perdoa se o pedido de perdão vem junto com um cheque de quinze mil reais? Mas o problema é este: a facilidade.


Pagar a dívida de alguém é mais fácil do que fazer um vagabundo se interessar por um emprego e ser fiel nele todo dia. Isso ocorre porque é mais difícil implantar uma consciência do que mudar uma circunstância. Mudar uma circunstância é fácil quando se tem as armas físicas para isso. Mas mudar pessoas é impossível a não ser pelo poder da graça que flui através do amor de Deus dentro de cada um de nós. Apenas sendo instrumentos de Deus podemos ser usados para mudar as pessoas. E o que nos transforma em vasos de honra para o serviço cristão é o amor.


Vinícius Santos Albuquerque

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Por que os prisioneiros estão se regozijando? - John Piper


Imagine prisioneiros de guerra detidos em um acampamento cercado com arame farpado, pouca alimentação e condições de imundície quase ao fim da Segunda Guerra Mundial. Do lado de fora, aqueles que os capturaram estão livres e fazem os seus negócios como se não tivessem qualquer preocupação. No interior da cerca, os soldados capturados estão magros, com olhos fundos, sujos e não barbeados. Alguns morrem a cada dia.

Então, de alguma maneira, uma mensagem de rádio chega clandestinamente em uma das barracas. Há uma conexão com o mundo exterior e com o progresso da guerra. Um dia, aqueles que os capturaram vêem algo muito estranho. Do lado de dentro da cerca, os soldados fracos, sujos e não barbeados estão sorrindo, e uns poucos que ainda têm vigor dão gritos e lançam panelas de estanho ao ar.

O que torna isso bastante estranho para todos que se acham do lado de fora da cerca é que nada mudou. Esses soldados ainda estão em cativeiro; ainda têm pouca alimentação e água. E muitos ainda estão doentes e morrendo. Entretanto, o que aqueles que os prenderam não sabem é que esses soldados têm novas. As linhas inimigas foram rompidas. A batalha decisiva de libertação foi travada. E as tropas libertadoras estão a poucos quilômetros do acampamento. A liberdade é iminente.

Esta é a diferença causada pelas novas. Os crentes ouviram as novas de que Cristo veio ao mundo e travou a batalha decisiva, para vencer Satanás, a morte, o pecado e o inferno. A guerra acabará em breve; e já não há dúvida a respeito de quem será o vencedor. Cristo venceu e libertará todos os aqueles que puseram a sua esperança nEle.

As boas-novas não dizem que o inferno, a morte, o pecado e o sofrimento não existem. As boas-novas afirmam que o próprio Rei veio, e esses inimigos foram vencidos, e, se cremos no que Ele fez e promete, escaparemos da sentença de morte, veremos a glória de nosso Libertador e viveremos com Ele para sempre. Estas novas nos enchem de esperança e gozo (Rm 15.13), nos libertam da autopiedade e nos capacitam a amar aqueles que sofrem. Neste amor sustentado pela esperança Ele nos ajudará a perseverarmos até que soe a trombeta final de libertação.

John Piper

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Perfeição Plastificada

“O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.”

I Coríntios 13.8-13


Para quem não sabe, eu sou designer. Hoje eu estava baixando alguns arquivos para um serviço e acabei vendo uma foto de uma árvore de natal. Tudo nela é projetado, desenhado, carrega a noção de perfeição do homem, mas é de plástico. Ela é esteticamente perfeita, não murcha, pode passar por qualquer estação e continua com as folhas verdes, mas é de plástico. Ela é bonita, está sempre de pé, é constante a ponto de manter o mesmo tamanho, mesma envergadura, mas é de plástico. Esta imagem imprimiu dentro de mim esta verdade: Enquanto o homem tenta viver perfeitamente, o fim alcançado é a ausência de vida, assim como esta árvore.


Já assisti isto diversas vezes. Alguém começa a cortar todo o lazer da sua vida, porque, de repente, tudo se tornou pecado. Se não considera como pecado, começa a achar que está perdendo tempo com outras coisas, quando podia estar orando, lendo ou fazendo algo mais “edificante”. Esta pessoa se torna solitária, porque sair com os amigos e conversar sobre coisas que não são assuntos “divinos” se tornou perda de tempo. Assim essa pessoa está perdendo a melhor parte, a única parte que realmente importa para Jesus: O amor.


Conheço pessoas que, tentando amar o próximo, se afastaram dele. Aí o próximo já não é mais próximo, é distante. Torna-se impossível amá-lo, pelo menos biblicamente, já que o caminho escolhido por estes é, na verdade, parar de caminhar. As questões letradas são a única atenção destes. O próximo destes é o livro, a internet e até a Bíblia, ainda que numa visão segmentada.


Estes lêem a Bíblia com a pergunta “O que Deus quer me falar hoje?”, quando a pergunta deveria ser “O que Deus quer que eu faça hoje?”. Essa pergunta muda tudo. Porque se o dilema é o que fazer, e se a intenção é converter todo o Evangelho em atitudes, o caminho que seguimos é o da diminuição dos estudos para se passar mais tempo com gente; da troca de folhas por carne e osso; da troca de pessoas mortas (autores de livros) por pessoas vivas.


É disso que Paulo fala em I Coríntios 13. Ele começa a falar sobre os dons no capítulo 12: “Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes”. Paulo deu a devida importância ao conhecimento espiritual, ao discernimento, ao entendimento daquilo que é sobrenatural. O apóstolo expõe o conhecimento que ele desejava que os coríntios tivessem, mas em seguida diz “Eu vos mostrarei um caminho mais excelente”. Existe algo muito mais excelente do que conhecer e buscar os dons: O amor.


Depois de explicar a natureza dos dons, Paulo diz que os dons serão aniquilados e a cessarão, e até o conhecimento desaparecerá, mas o amor nunca falhará. Fica evidente em suas palavras que, por mais que você conheça muito, você só conhecerá em parte. Por mais que você busque os melhores dons, você só profetizará em parte. Entretanto, tudo isso será aniquilado na vinda do Filho do Homem, aquele que é perfeito em todos os seus caminhos.


Enquanto somos meninos, falamos, sentimos e discorremos como meninos. Quando chegamos à maturidade, acabamos com as coisas de menino. Assim também será quando Cristo voltar. Enxergaremos que tudo o que falamos, sentimos e discorremos era uma meninice infinita, porque Ele terá completado a Sua obra em nós. Quantos arminianos e calvinistas ficarão cobertos de vergonha e vexame por terem defendido suas doutrinas com uma queda-de-braço sem fim! Chegarão diante do trono da graça e verão que não enxergaram nem a metade da verdade! A noção de burrice será geral! Olharemos para trás e diremos “Que idiotice a minha! Pensei que o entendimento vinha até aqui, mas vai muito além disso!”. Talvez eu esteja entre os maiores burros do universo naquele dia!


Então, antes de isso acontecer, permanecem a fé, a esperança e o amor. Mas o maior destes é o amor! A fé existe e permanece, assim como a esperança, e todas elas dependem de conhecimento. Mas o amor não depende de teologia humana, que tenta sistematizar o comportamento divino estudando um ser infinito, ainda que a mente humana seja finita.


Muitas vezes haverá erros em seu conhecimento e em sua profecia, porque você não é perfeito, mas o amor mantém a sua perfeição, porque ele nunca falha. O amor não é particionado como o conhecimento e a profecia. O amor é pleno, completo, inteiro, de modo que a única maneira de ser perfeito é através dele. Se busco a perfeição pelo conhecimento, conheço em parte e a perfeição, que é absoluta, não será alcançada. Se busco a perfeição pelos dons, profetizo em parte e a perfeição não será alcançada. Se busco a perfeição pelo amor, encontro o caminho.


O amor permite crescimentos, envergaduras, transformações na composição por causa de circunstâncias naturais, mantendo o ramo enxertado na videira. O amor é o que abre espaço e enxerga que a vida deve ser nada mais que uma constância inconstante. No amor há liberdade para fome, sede, choro, riso e tudo mais. Nele há liberdade para a queda de folhas no outono e nascimento de flores na primavera. O amor percebe que há um tempo para todas as coisas e não uma coisa para todos os tempos. O amor tem liberdade para dizer: “Estou atribulado, mas não angustiado; Perplexo, mas não desanimado; Perseguido, mas não desamparado; Abatido, mas não destruído” (II Coríntios 4.8-9). A liberdade do amor é a única coisa que pode nos fazer perfeitos como o nosso Pai celeste.


Vinícius Santos Albuquerque

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Nascido do Espírito

“O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito”
João 3.8

Há dois anos se manifestou em mim um amor diferente pela Palavra de Deus. O “sola Scriptura” havia se tornado uma realidade tão intensa que eu não aceitava nada contraposto à Palavra. Eu tinha um amor muito grande pela Bíblia, que foi gerado no começo da minha caminhada com Cristo, mas não era nada parecido com este novo amor que estava surgindo. Este novo amor era como um casamento, onde eu não poderia “adulterar” com outros livros, pensamentos e textos que fossem contra ao que ela dizia. Era fidelidade total. Não que antes eu aceitasse o que estava em desacordo com as Escrituras, mas eu não me dava ao trabalho de procurar saber se era como haviam me ensinado, como um bom bereano.

Esse amor foi gerado em mim na forma deste versículo: Ouvi esta voz, não soube de onde vinha nem para onde ia. Logo vi que isso estava acontecendo com outros jovens da comunidade em que congrego. Não foi um movimento encabeçado por algum líder. Foi uma vontade comum gerada em todos. Nós simplesmente começamos a seguir este caminho, sem nenhum direcionamento pastoral, sem alguém que nos ordenasse isso. Assim pude entender este versículo com profundidade.

Há coisas em nossa vida que são feitas completamente por instinto. Você não pensa quando o seu braço coça. Você apenas coça. Alguns não se lembram nem de ter se coçado. Se a coceira for muito forte, não conseguimos nem resistir. Isso acontece no nível da vontade. Tudo o que se tornou hábito, que se faz sem pensar, tem sua fonte na vontade. Só podemos fazer algo contra a vontade quando há pensamentos, racionalização, argumentação.

Este versículo é bem explícito nisso: O vento assopra ONDE QUER. Está relacionado à vontade. O que é nascido do Espírito, o que é gerado pelo Espírito, tem, necessariamente, que ser gerado na vontade. Ele pode começar a ser gerado na mente, mas tem que, obrigatoriamente, ser gerado na vontade também. Também não é obrigatório que seja gerado na mente, mas é obrigatório que seja gerado na vontade. Assim é o que nasce do Espírito.

Este movimento de amor pela Bíblia estava nascendo do Espírito, por isso não sabíamos de onde vinha esta vontade mútua. Não participava da teoria de causa e efeito, pelo menos não participava visivelmente. Não tinha causa física visível para isso. Este é o trabalho de todo líder eclesiástico: Discernir o lugar para onde o sopro de Deus está levando a Sua Noiva e se unir, levando junto os que ainda não perceberam este caminho.

Como falta ensino sobre a regeneração em nossas igrejas! A regeneração é a resposta de Deus contra o farisaísmo. Nascendo de novo eu posso ser justo e verdadeiro ao mesmo tempo. Antes da regeneração não. Era tudo forçado. Era trabalhoso. Agora é alívio, é descanso. “Fé salvadora é o arremesso de uma alma desesperada nos braços de um salvador todo poderoso” (Al Martin). A alma pode descansar porque o Salvador é Todo-Poderoso.

Se não há desejo natural pelas coisas de Deus, você não nasceu de novo. Isso pode ser aplicado à outras áreas também. Quando você sentir um direcionamento mútuo numa direção plenamente bíblica, lembre-se: Assim é aquele, ou aquilo, que é nascido de Deus!

Vinícius Santos Albuquerque