quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Perfeição Plastificada

“O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.”

I Coríntios 13.8-13


Para quem não sabe, eu sou designer. Hoje eu estava baixando alguns arquivos para um serviço e acabei vendo uma foto de uma árvore de natal. Tudo nela é projetado, desenhado, carrega a noção de perfeição do homem, mas é de plástico. Ela é esteticamente perfeita, não murcha, pode passar por qualquer estação e continua com as folhas verdes, mas é de plástico. Ela é bonita, está sempre de pé, é constante a ponto de manter o mesmo tamanho, mesma envergadura, mas é de plástico. Esta imagem imprimiu dentro de mim esta verdade: Enquanto o homem tenta viver perfeitamente, o fim alcançado é a ausência de vida, assim como esta árvore.


Já assisti isto diversas vezes. Alguém começa a cortar todo o lazer da sua vida, porque, de repente, tudo se tornou pecado. Se não considera como pecado, começa a achar que está perdendo tempo com outras coisas, quando podia estar orando, lendo ou fazendo algo mais “edificante”. Esta pessoa se torna solitária, porque sair com os amigos e conversar sobre coisas que não são assuntos “divinos” se tornou perda de tempo. Assim essa pessoa está perdendo a melhor parte, a única parte que realmente importa para Jesus: O amor.


Conheço pessoas que, tentando amar o próximo, se afastaram dele. Aí o próximo já não é mais próximo, é distante. Torna-se impossível amá-lo, pelo menos biblicamente, já que o caminho escolhido por estes é, na verdade, parar de caminhar. As questões letradas são a única atenção destes. O próximo destes é o livro, a internet e até a Bíblia, ainda que numa visão segmentada.


Estes lêem a Bíblia com a pergunta “O que Deus quer me falar hoje?”, quando a pergunta deveria ser “O que Deus quer que eu faça hoje?”. Essa pergunta muda tudo. Porque se o dilema é o que fazer, e se a intenção é converter todo o Evangelho em atitudes, o caminho que seguimos é o da diminuição dos estudos para se passar mais tempo com gente; da troca de folhas por carne e osso; da troca de pessoas mortas (autores de livros) por pessoas vivas.


É disso que Paulo fala em I Coríntios 13. Ele começa a falar sobre os dons no capítulo 12: “Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes”. Paulo deu a devida importância ao conhecimento espiritual, ao discernimento, ao entendimento daquilo que é sobrenatural. O apóstolo expõe o conhecimento que ele desejava que os coríntios tivessem, mas em seguida diz “Eu vos mostrarei um caminho mais excelente”. Existe algo muito mais excelente do que conhecer e buscar os dons: O amor.


Depois de explicar a natureza dos dons, Paulo diz que os dons serão aniquilados e a cessarão, e até o conhecimento desaparecerá, mas o amor nunca falhará. Fica evidente em suas palavras que, por mais que você conheça muito, você só conhecerá em parte. Por mais que você busque os melhores dons, você só profetizará em parte. Entretanto, tudo isso será aniquilado na vinda do Filho do Homem, aquele que é perfeito em todos os seus caminhos.


Enquanto somos meninos, falamos, sentimos e discorremos como meninos. Quando chegamos à maturidade, acabamos com as coisas de menino. Assim também será quando Cristo voltar. Enxergaremos que tudo o que falamos, sentimos e discorremos era uma meninice infinita, porque Ele terá completado a Sua obra em nós. Quantos arminianos e calvinistas ficarão cobertos de vergonha e vexame por terem defendido suas doutrinas com uma queda-de-braço sem fim! Chegarão diante do trono da graça e verão que não enxergaram nem a metade da verdade! A noção de burrice será geral! Olharemos para trás e diremos “Que idiotice a minha! Pensei que o entendimento vinha até aqui, mas vai muito além disso!”. Talvez eu esteja entre os maiores burros do universo naquele dia!


Então, antes de isso acontecer, permanecem a fé, a esperança e o amor. Mas o maior destes é o amor! A fé existe e permanece, assim como a esperança, e todas elas dependem de conhecimento. Mas o amor não depende de teologia humana, que tenta sistematizar o comportamento divino estudando um ser infinito, ainda que a mente humana seja finita.


Muitas vezes haverá erros em seu conhecimento e em sua profecia, porque você não é perfeito, mas o amor mantém a sua perfeição, porque ele nunca falha. O amor não é particionado como o conhecimento e a profecia. O amor é pleno, completo, inteiro, de modo que a única maneira de ser perfeito é através dele. Se busco a perfeição pelo conhecimento, conheço em parte e a perfeição, que é absoluta, não será alcançada. Se busco a perfeição pelos dons, profetizo em parte e a perfeição não será alcançada. Se busco a perfeição pelo amor, encontro o caminho.


O amor permite crescimentos, envergaduras, transformações na composição por causa de circunstâncias naturais, mantendo o ramo enxertado na videira. O amor é o que abre espaço e enxerga que a vida deve ser nada mais que uma constância inconstante. No amor há liberdade para fome, sede, choro, riso e tudo mais. Nele há liberdade para a queda de folhas no outono e nascimento de flores na primavera. O amor percebe que há um tempo para todas as coisas e não uma coisa para todos os tempos. O amor tem liberdade para dizer: “Estou atribulado, mas não angustiado; Perplexo, mas não desanimado; Perseguido, mas não desamparado; Abatido, mas não destruído” (II Coríntios 4.8-9). A liberdade do amor é a única coisa que pode nos fazer perfeitos como o nosso Pai celeste.


Vinícius Santos Albuquerque

0 comentários: